Colóquio
Memória e Cidadania na Literatura Tradicional Peninsular
10 e 11 de Maio de 2010
Universidade do Algarve (Faro)
Biblioteca Municipal Álvaro de Campos (Tavira)
Organização
Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República
Helena Buescu e Pedro Ferré
Francisco Bethencourt e Diogo Ramada Curto escreveram, em 1991, que “A memoria da nação está presente um pouco por todo o lado, pontuando de sinais o quotidiano das gentes, enformando a sua maneira de viver e de sentir, balizando o presente e o futuro enquanto forma de representação de uma identidade construída ao longo de oito séculos de forma descontínua.” Ora, um dos lugares onde se torna imperioso procurar essa memória é, sem dúvida, a literatura e, de forma muito particular, a literatura tradicional.
De facto, durante o século XIX, a demanda de uma literatura nacional, ‘achada’ pelos românticos peninsulares na literatura oral e a “perspectiva valorizadora da descoberta e identificação das origens étnicas dos factos da cultura popular portuguesa” ensaiada por Teófilo Braga são reveladoras da enorme importância da literatura popular na procura de uma identidade nacional. Note-se que, em Espanha, nem o sábio filólogo Ramón Menéndez Pidal conseguiu escapar ao espírito do ‘noventayochismo’ nacionalizando o romanceiro.
Ainda no século XIX, Antero de Quental encontrou, também, nesta literatura, exemplos para “desenvolver no espírito das crianças certas tendências morais” fundamentais para “a harmonia do carácter e, em geral, para o bom equilíbrio das faculdades”. Assim, baseando-se essencialmente no romanceiro e na lírica tradicional, forjou o seu Tesouro Poético da Infância com objectivos bem claros: despertar nos jovens “o sentimento do bem e do belo, sem o qual, mais tarde, a própria rectidão do carácter degenera numa dureza intolerante e estreita”.
Deste modo, a literatura oral foi, durante o século XIX, objecto de um vivíssimo interesse, tendo-se dedicado à procura no seu seio
a) ora das origens de uma literatura nacional,
b) ora dos traços configuradores de uma etnia ou etnias,
c) ora ainda de uma constelação de valores apropriados para a formação da cidadania.
O século XX foi, progressivamente, abandonando grande parte destas preocupações - se exceptuarmos o aproveitamento que de alguns destes princípios se fez durante as ditaduras de Salazar e de Franco – postulando mesmo que, na literatura tradicional, as versões de um tema não passam de um mero testemunho - concretizado através de uma língua e de um conjunto de singularidades espácio-temporais - de um determinado arquétipo transnacional. Contudo, independentemente do acerto desta visão, não se deverá esquecer que alguns dos temas conservados pelas memórias colectivas repetem, numa dimensão literária, episódios particulares da História e, numa dimensão formativa, inculcam valores.
Deste modo, este encontro, que reunirá, no Algarve (Campus de Gambelas da Universidade do Algarve, em Faro / Biblioteca Municipal Álvaro de Campos, em Tavira) alguns dos principais especialistas em literatura oral e tradicional no contexto ibérico, entre 10 e 11 de Maio, pretende promover a reflexão em torno de dois eixos vectoriais fundamentais: a memória e a cidadania, entendidas enquanto valores inerentes aos próprios mecanismos de transmissão dos diversos géneros literários tradicionais, ou ainda enquanto molduras ideológicas que enquadraram, de uma forma ou de outra, os trabalhos de recolha e estudo de muitos dos que a este tipo de literatura, ao longo do tempo, se dedicaram.
Mais informações em:
http://coloquio-memoria.centenariorepublica.pt/